07/08/2007


O MARIDO NOS FILHOS
(Fabrício Carpinejar)

Os filhos não desanimam o casamento. Eles nos ensinam novamente a casar.

Sei que não é razoável o que estou afirmando. Não sou razoável, alguém deseja ser? Razoável é sentenciar que os filhos tiram o tempo do namoro, interpelam a todo segundo por banalidades, brigam quando estamos lendo, atendendo ao telefone ou concentrados.
Razoável é concordar que não há com quem deixar as crianças em mais de uma noite para sair e os programas tornam-se mais caseiros, a falta de opção converte os incansáveis sedutores em amigos dorminhocos.
O frio, um DVD, o cansaço do trabalho são desculpas para não tentar algo diferente e superar a escassez de assunto numa mesa de restaurante.

O risco da separação aumenta porque o amor não é mais prioridade.

Mas não consigo confiar nessa hipótese.

Os filhos estão nos oferecendo aulas de graça (força de expressão; trata-se de fiado, um dia eles cobram).

Vicente me prepara para ser um bom marido. Com seus cinco anos. E sua timidez carismática. Não dependo de muita concentração. É seguir seus gestos. Virar um mímico em minha casa. Um clown de suas pausas e feições. Eu me preparei para assistir ao jogo do meu time no estádio. Fazia frio (6º), a noite ia alta e teria uma estrada pela frente.
Convidei o Vicente, com a certeza que aceitaria no ato, logo agradeceria e correria ao quarto para se fardar. Porém, ele me questionou:
- Que horas vou voltar?
- 1h, acho.
- Desculpa, pai. Mas vou pegar a mãe dormindo, e quero ver sua boniteza acordada.

Notei que ele roubou minha fala. Era a resposta perfeita de marido. A frase consagradora.

Compensaria uma louça empilhada, uma toalha molhada na cama, um pote de xampu virado, divorciado da tampa, o azedume no almoço da sogra, a lâmpada que não troquei na área de serviço.

O filho me substituía enxergando a minha demora.

Se sua mãe não estivesse escutando, cometeria um plágio sem pudor.

Ao sair, enxergo o guri no quarto, com uma vozinha esquisita, abafada, de marionete. Intuí que estivesse brincando com seus bonecos, falando por eles, como criança gosta de fazer para povoar a solidão.

Mas conversava com sua mãe. Interrompi.

- Que voz é essa, Vicente?

- Voz? A minha!

- Não, nunca usou essa voz comigo. É uma vozinha dodói, diferente.

- É a voz que uso com a mamãe. Tem uma voz para cada amor.

Espantei-me. Ele seqüestrou pela segunda vez a minha parte no roteiro. Descobri que utilizo a mesma voz com a minha mulher, e deveria ser outra, para ela não me confundir comigo mesmo.


Esse texto do Fabrício é muito interessante, não acham??? os filhos entram na nossa vida e é por eles que vivemos, a maioria das vezes nos esquecendo que antes deles, tínhamos um casamento , onde o marido era a figura central , e por ele e pelos sonhos que tínhamos juntos é que vivíamos...... depois tudo muda.
Não estou reclamando, apenas refletindo o que seria da minha vida sem meu filho...... talvez nada do que vivo hoje . Mas sinceramente, não voltaria no tempo, se fosse para escolher, viveria mil vezes essa experiência de ser mãe. Filho é para sempre.... marido? Não.
O casamento deveria ser uma constante redescoberta...... redescobrir o amor é fundamental.... mas como se faz isso? Será que vale a pena? Até onde somos capazes de renovar????
Estamos em constante mudança, e quando o outro não acompanha , não compreende e começa a trilhar seus próprios caminhos, é porque está na hora do ponto final.
Não há porque ficar com alguém que não te ama, não te deseja, não quer compartilhar contigo todas as coisas, sem exceções. Egoísmos não cabem num casamento.
Sonhos sim, planos de uma vida melhor, sim...... idealizações de se tornar velhinhos vivendo sempre um para o outro... sim, de ver seus filhos se tornarem homens honestos, sérios, capazes.... sim. Isso não é e nem deve ser um fardo. Se for algo tão pesado assim para suportar..... é hora de cair fora mesmo.
O que fica é uma sensação de perda tão grande, que pensa-se na impossibilidade de se recomeçar..... no medo de enfrentar o que virá..... na decepção de ter que se justificar perante os outros , porque você não foi suficentemente capaz de manter acesa a chama desse amor que um dia os uniu. A mágoa de saber que você já não é interessante, nem sensual, nem sexy... que não desperta mais no outro o desejo e a vontade de intimidade......
E quando essas atitudes partem do outor e não de você, a coisa parece ficar mais dolorosa ainda...
Caem -se as máscaras.... e a dor persiste, até você sentir-se forte o suficiente para encarar o mundo de frente e dizer: Eu sou mais eu... eu consigo.... eu não preciso ser tão pouco.... não preciso de você!!!!

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