27/09/2011

Let´sdo it slowly but surely...no doubts.







Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

(Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986)

retirado do blog:http://www.releituras.com/i_rodrigorosa_caioabreu.asp

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Pq, hj, estou assim... melancólica,saudosa,uma tristeza quase boa... se é q se pode falar assim. Deixei de ser tão radical em minhas escolhas, pra ser mais madura e encarar tudo de frente. Independência é a chave da liberdade, mas q é bom ter um porto-seguro, ahhhhh se é. Nada como as lembranças e as memórias para acalentar os sonhos, mesmo q perdidos, ou desencontrados, ou adiados...
E vamo q vamo... a vida continua; ela não quer saber como estamos ou o q vamos fazer... a vida surge, adentra, arrasa; convida  a sermos mais e a VIVER!!!

 Simbora... o caminho nem é tão difícil assim,
BASTA  ACREDITAR...CONFIAR... SE ENTREGAR!!!
 

10/09/2011

Tim Tim...

‎"Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do

 corpo, a alma está de joelhos."

Victor Hugo




Dizem q “a agústia é um nó bem apertado no meio do sossego...”, pois é, pra quem consegue ter sossego, deve ser... ahã? Q é isso? Faz tempo q meu sossego escorreu pelo ralo da pia... e tá lá, indo esgoto abaixo.

Desde fevereiro estou me preparando pra encarar a vida de uma “mulher separada”, divide-se sonhos, divide-se objetos, divide-se tudo... e discute-se tb, e magoa-se mto mais. Entre mortos e feridos, poucos se salvam. Eu to me salvando... a exurrada vem, passa, destrói e leva com ela mtas coisas, entre tantas, minhas forças...

Tim tim  à vida!!!  Não dá pra desanimar. Sentindo-me sozinha ou rodeada por uma multidão, as decisões cabem somente   a mim... e se eu decidir pular no penhasco... vem junto??!!  Não, não prometo q vai ser fácil, pelo contrário, remaremos contra a maré...mas serei feliz, seremos.

Por isso, todo minuto dispensado a essa preparação minha, está sendo mto importante... quase vital. Estou aprendendo a ser sozinha, a decidir e agir rapidamente. Sem esperar nada, absolutamente nada de ninguém. 

As pessoas nem sempre acompanham o meu ritmo, paciência. Esse foi um dos motivos pelos quais a separação, aqui em ksa,  foi iminente. Enfim...

Vem junto?!

Não, não é um convite, nem uma proposta,  é apenas  o pedido de que me mande boas vibrações e pensamentos positivos... nada mais.

Minha petulância e coragem não são tão grandes a ponto de tirar vc de sua segurança, pq vir comigo é andar na corda bamba, sempre... com a grande possibilidade de boas risadas e  aventuras... mas para isso precisa-se determinação e coragem de decidir-se por si só... não quero comigo quem me leve pro fundo do poço, nem me aponte o dedo na fuça recriminando minhas atitudes, ou então dando-me as costas por arrependimento em ter me dado a mão. Quero liberdade, de todos os lados... quero emoção  pra descobertas e sensações... básico assim.

Tim tim à mim mesma... não pelos meus feitos, esses são conseqüências de tudo o q desenhei pra minha vida... mas tim tim pela coragem de mudar e não depender emocionalmente do outro. De erguer a cabeça e ser mais eu, sem me perder nos rótulos de “mulherzinha” coitadinha e sofredora...
Tim tim a mim, pela manutenção da minha saúde ( com a imunidade lá no pé , medicando toda semana  uma coisa diferente) para q o câncer não me assole mais, e que eu tenha forças pra ajudar na manutenção da saúde dos outros ( como a do meu pai, internado em Itajaí e sugando todas minhas energias, na semana q passou...tadinho).

Tim tim a mim,a vc, a nós... pela vida, pela sobrevivência... pelo doar-se, pelo preocupar-se, e principalmente pelo agir...

Estou na beira do penhasco, pronta pra pular... de encontro a nova vida... vem comigo?!
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                             “(…) passava os dias numa disposição de sala de espera, 

impaciente pelo início de sua vida.”

(Ian McEwan in: Na praia. Ed. Companhia das Letras, p. 44)